Cristianismo é socialismo, afirma Hugo Chávez em Cuba

29/03/2012 11:50

 

HAVANA - Num aparente recado ao Papa Bento XVI, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, exaltou nesta terça-feira o socialismo como único remédio para a pobreza. O recado foi dado de Cuba, onde o venezuelano realiza mais uma etapa de seu tratamento contra o câncer e o Papa realiza uma visita de três dias, que se encerra hoje.

Num discurso televisionado de um gabinete improvisado com direito à bandeira da Venezuela na mesa e um retrato de Simón Bolívar ao fundo, Chávez saudou a presença de Bento XVI na América Latina, mas afirmou que não pediu um encontro com o Papa, apesar de os dois estarem em Havana.

- Minha missão aqui coincidiu com a presença do Papa, mas eu não vou interferir em sua agenda. O Papa é um chefe de Estado, eu sou um chefe de Estado, Raúl (Castro) é um chefe de Estado. Não vou interferir - afirmou.

O Vaticano disse que, apesar de não ter pedido uma audiência, Chávez será bem-vindo na missa que o Pontífice rezará nesta quarta-feira em Havana.

Católico praticante, Chávez reforçou sua religiosidade em público na luta contra o câncer. Ao voltar da fase anterior de seu tratamento em Cuba, por exemplo, agradeceu às orações do arcebispo de Havana e afirmou que retornava à Venezuela "com Cristo em mim". Mas agora ele parece ter colocado as divergências ideológicas com o Papa acima das afinidades religiosas.

Chávez disse que aproveitará a presença de Bento XVI em Cuba para reforçar suas orações pelo bem dos pobres.

- Tomara que a Igreja Católica aprofunde seu trabalho pelos pobres.

Sem se referir à avaliação do Papa - feita a jornalistas no avião que o levou do Vaticano ao México, escala anterior de sua visita à América Latina - de que o modelo socialista de Cuba se esgotou e deve ser substituído, Chávez defendeu tese totalmente oposta.

- Só no socialismo é possível acabar com a pobreza. O cristianismo é socialismo. O capitalismo é o contrário, é disso que deveríamos ter medo. O capitalismo é o reino da desigualdade - afirmou Chávez, que diz adotar na Venezuela um modelo que denominou socialismo do século XXI. - Durante estes 13 anos (de seu governo), a pobreza na Venezuela se reduziu drasticamente de mais de 20% a 7%. É um dos poucos países onde isso aconteceu.

Ele completou o raciocínio dizendo que a Revolução Cubana é "sólida" como o povo venezuelano.

No discurso, Chávez ainda encontrou tempo para fazer campanha pela sua reeleição. Ele enfrenta em outubro o opositor Henrique Capriles na busca de um novo mandato que o manteria no poder até 2018. O tratamento contra o câncer, porém, tem levantado dúvidas sobre as condições de saúde do líder venezuelano para enfrentar a campanha. Ontem, uma pesquisa deu 13 pontos de vantagem ao presidente na disputa contra Capriles.

- A burguesia está desesperada. O único lugar que eles vão governar é Plutão - bravateou Chávez em seu discurso de ontem.

O presidente apareceu no discurso ladeado de importantes ministros como Nicolás Maduro (Relações Exteriores), Rafael Ramírez (Energia e Petróleo) e María Cristina Iglesias (Trabalho), além de familiares. Membros da oposição vêm criticando Chávez por não se licenciar do cargo para fazer o tratamento e virtualmente transferir o governo para Cuba. Um deputado opositor disse que a etapa anterior do seu tratamento em Havana, de 22 dias, custou US$ 4 milhões aos cofres venezuelanos com diárias e viagens de integrantes do governo e familiares.

Chávez voltou a Cuba no último fim de semana para ser submetido a novas sessões de radioterapia. O presidente e seus auxiliares vêm adotando um discurso otimista, resumido no bordão "viverei e viveremos", e Chávez prometeu recentemente ficar no poder até 2030. Mas alguns jornalistas afirmam que o cenário real é bem mais sombrio - o câncer do presidente seria incurável e ele teria poucos meses de vida.

- O tratamento está indo bem - limitou-se a dizer Chávez ontem em seu discurso.

Fonte Yahoo Notícias